sábado, 22 de janeiro de 2011

Por que devo ser ético?

      A pergunta acima não teria sentido se fosse feita num contexto religioso. Afinal, você é ético por que a doutrina religiosa determina que assim seja. E, especialmente, porque você precisa prestar contas diante de Deus.
      Porém, fora do contexto religioso, no plano público, onde todos os interesses e diferenças se encontram a pergunta volta com forças. Por que devo ser ético? Por que devo ser bom? Por que devo ser justo? Por que não devo trapacear, passar o outro para traz nos negócios? Por que não devo ser egoísta e somente me preocupar comigo mesmo? Qual o ganho em ser ético? Há algum retorno ou alguma compensação pelo fato de ser justo?
      Escuto muitas pessoas falarem que não vale a pena ser ético. Afinal ser ético é sinônimo de “trouxa”. O que vale mesmo é ser esperto e procurar levar vantagem em tudo, nem que para isso você tenha que passar o outro para traz. Não se deve ter escrúpulos. Muitos estufam o peito e dizem: “fiz um bom negócio, consegui valorizar muito mais o meu produto do que ele valia”.
      Há uma história que nos ajuda a refletir sobre isto. Trata-se do dilema do prisioneiro. “Dois suspeitos, A e B são presos pela polícia, que não tem provas suficientes para condená-los, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre, enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-lo a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro. A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai reagir?”
      Este dilema não é apenas uma charada bem feita. “Ele é um problema clássico da teoria dos jogos. Nele, supõe-se que cada jogador, de modo independente, quer aumentar ao máximo a sua própria vantagem sem se importar com o resultado do outro jogador. Curiosamente, ambos os jogadores obteriam melhor resultado se colaborassem um com o outro, mas cada jogador tenderá a ser egoísta e a enganar o outro, mesmo que tenha prometido colaborar. O que acontecerá se ele pensar que o outro também agiria da mesma forma?”
      “O que o dilema coloca em jogo é justamente o fato de agir de forma egoísta, cada um para si, sem contar com ajuda do outro. Dado que nenhum deles pode ter certeza da cooperação do outro, o resultado final será que ambos irão optar por denunciar o colega. Desta forma têm certeza que terão, na pior das hipóteses, um pena de 5 anos, na melhor, sairão em liberdade. No final acabam por ficar bastante pior do que se tivessem cooperado”. Itamar Hammes é professor

Nenhum comentário: