sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Estou voltando a este blog. A ética é fundamental na educação. Abraço.

sábado, 22 de janeiro de 2011

A educação para a moral e ética

      Vivemos numa época onde se fala muito em moral, ética, caráter, virtudes. Parece até que virou uma resposta mágica ou uma solução para todos os problemas. Quem não se lembra da, amplamente divulgada, discussão que houve no senado sobre a necessidade de uma educação ética. Especialmente o senador Pedro Simon tomou o microfone e fez uma manifestação em favor da educação moral e ética nas escolas. Na verdade o senador estava indignado diante do que ouvira de um diretor de novela que as pessoas gostam ou preferem os vilões aos mocinhos.
      A questão, porém, é como educar para a moral e ética. Há um livro muito interessante que nos ajudar a refletir sobre isto, Sobre a Pedagogia, de Immanuel Kant. Neste livro o autor afirma que o ser humano precisa ser educado, ele é “o que a educação faz dele”. Uma geração educa a outra. Neste sentido “a educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aperfeiçoada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daquelas, e, assim, guie toda humana espécie a seu destino”.
      Uma dos principais objetivos da educação deve ser o de desenvolver as disposições humanas para o bem. O homem não nasce bom. Ele nasce com uma disposição para o bem. Como afirma Kant: “tornar-se melhor, educar-se e, se é mau, produzir em si a moralidade: eis o dever do homem (...) A educação, portanto, é o maior e o mais árduo problema que pode ser proposto aos homens”. Neste sentido a educação é uma arte. Uma arte “que deve desenvolver a natureza humana de tal modo que esta pessoa possa conseguir seu destino”.
      Para Kant os educadores deveriam ter sempre aos seus olhos o princípio de que: “não se devem educar as crianças segundo o presente estado da espécie humana, mas segundo um estado melhor, possível no futuro, isto é, segundo a idéia da humanidade e da sua inteira destinação”. Kant acredita intensamente no progresso do gênero humano ou da humanidade. Comparte isto com o espírito do esclarecimento. Afirma ele: “é entusiasmante pensar que a natureza humana será sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela educação, e que é possível chegar a dar aquela forma que em verdade convém à humanidade. Isto abre a perspectiva para uma futura felicidade da espécie humana”.
      Kant pressupõe que o homem pode ser treinado, tanto quanto os cães e os cavalos, mas não seria suficiente treinar as crianças, pois “urge que aprendam a pensar”. Em resumo podemos descrever os passos educacionais assim: 1) Ser disciplinado: basicamente consiste em domar a selvageria; 2) Deve o homem tornar-se culto: consiste do aprendizado de algumas habilidades ou conhecimentos como, por exemplo, o ler e escrever, a música, entre outras; 3) O homem deve tornar-se prudente: consiste no aprendizado de certos modos corteses, gentileza e a prudência de nos servirmos dos outros homens para os nossos fins; 4) Cuidar da moralização: que o homem consiga a disposição de escolher apenas os bons fins. Bons são aqueles fins que são aprovados necessariamente por todos e que podem ser, ao mesmo tempo, os fins de cada um.
      Para alcançar este propósito da educação kantiana seria preciso disciplinar, instruir e ilustrar o homem por meio de um programa educativo constituído de dois movimentos distintos. Um primeiro momento, denominado de negativo, quando o educando seria ensinado a obedecer e adquirir uma certa disciplina. Um segundo momento denominado de educação positiva, envolveria a instrução e a aquisição da cultura por parte do educando, quando aprenderia a usar a sua reflexão e a sua liberdade. Itamar é professor

A moda é o relativismo moral

      Vivemos numa época onde as certezas naufragaram. Parece que tudo é relativo. Você pergunta a alguém uma opinião sobre determinado assunto e, imediatamente, ouve respostas como “depende da situação”, é “relativo ao momento em que se encontra”, “depende muito de cada um” e assim por diante. Parece que nos submetemos ao “você decide”, onde os critérios ou mesmo regras para uma vida boa são quase desconsideradas. Importa mesmo a opinião de cada um e sua capacidade de sensibilizar as pessoas em torno de uma idéia. Não é isto que aprendemos com programas como o Big Brother ou outros reality shows?
      É impressionante como estes programas evocam as diferenças e ressaltam o exercício da tolerância. Vejam a última edição do Big Brother, por exemplo, foi marcado pela diversidade: um gay, uma lésbica, uma drag queen, todos assumidos. Além disso, uma doutora em lingüística, uma policial, um engenheiro agrônomo, um advogado que treina boxe, entre outros. E o Pedro Bial sempre perguntando a opinião de cada um, procurando brechas ou polêmicas para levar ao público. Em outras palavras, o que se procurou evidenciar foram as diferenças sexuais, culturais e, ao mesmo tempo, destacar as exigências da tolerância.
      Como é diferente da época da minha infância. Das muitas coisas que me lembro ter aprendido naquele tempo com os pais, escola, Igreja, uma delas era a impossibilidade do relativismo. O pai, sempre decidido, com resposta para tudo, dizia que a honestidade relativa não existia. Não se pode ser honesto e ao mesmo tempo não ser. Ou você é decente, com vergonha na cara ou não é. Este papo de “relativo” era só para desculpar as mazelas ou para contornar as leis.
      Para o relativismo a moralidade não é baseada em qualquer padrão absoluto. Ao contrário, “verdades morais ou éticas” dependem da situação, cultura, sentimentos, etc. Para esta Filosofia todas as posições morais, todos os sistemas religiosos, todos os movimentos políticos, são verdades relativas ao indivíduo. De certa forma tenta-se evitar a idéia que há realmente o certo e o errado. Como conseqüência, o relativismo moral está cada vez mais ganhando espaço no sentido de encorajar a todos em aceitar as diferenças, a tolerância o jeitinho.
      Podemos, porém, perguntar ao relativismo, se todas as morais são igualmente válidas, como vamos avaliar as ações morais das pessoas? Como vamos distinguir entre uma ação boa ou má? (Itamar Hammes é professor)

O caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani

      Ainda repercute pelo mundo o caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani. Ela foi condenada à forca pela acusação de envolvimento no assassinato do marido e ao apedrejamento por acusações de adultério.
      Para o procurador geral do Teerã a análise da acusação de assassinato tem precedência sobre a de adultério, que resultou em uma condenação à morte por apedrejamento.
      A sentença por assassinato foi comutada em apelação por uma pena de 10 anos de prisão. Mas o Supremo Tribunal confirmou a condenação ao apedrejamento em 2007.
      Em julho passado, no entanto, a justiça suspendeu a aplicação da pena e anunciou uma nova análise do caso.
      Uma grande campanha internacional foi criada para tentar evitar o apedrejamento da iraniana. Em vários países ocidentais há grupos de defesa dos direitos humanos que fazem uma intensa campanha para evitar a execução de Sakineh.
      Para alguns dirigentes do Irã os ocidentais utilizam o caso de Sakineh para pressionar o Irã. Na visão deles “Os ocidentais são tão insolentes que transformaram o caso de Sakineh, que cometeu crimes, em um caso de direitos humanos”.  Itamar Hammes é professor

Por que devo ser ético?

      A pergunta acima não teria sentido se fosse feita num contexto religioso. Afinal, você é ético por que a doutrina religiosa determina que assim seja. E, especialmente, porque você precisa prestar contas diante de Deus.
      Porém, fora do contexto religioso, no plano público, onde todos os interesses e diferenças se encontram a pergunta volta com forças. Por que devo ser ético? Por que devo ser bom? Por que devo ser justo? Por que não devo trapacear, passar o outro para traz nos negócios? Por que não devo ser egoísta e somente me preocupar comigo mesmo? Qual o ganho em ser ético? Há algum retorno ou alguma compensação pelo fato de ser justo?
      Escuto muitas pessoas falarem que não vale a pena ser ético. Afinal ser ético é sinônimo de “trouxa”. O que vale mesmo é ser esperto e procurar levar vantagem em tudo, nem que para isso você tenha que passar o outro para traz. Não se deve ter escrúpulos. Muitos estufam o peito e dizem: “fiz um bom negócio, consegui valorizar muito mais o meu produto do que ele valia”.
      Há uma história que nos ajuda a refletir sobre isto. Trata-se do dilema do prisioneiro. “Dois suspeitos, A e B são presos pela polícia, que não tem provas suficientes para condená-los, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre, enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-lo a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro. A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai reagir?”
      Este dilema não é apenas uma charada bem feita. “Ele é um problema clássico da teoria dos jogos. Nele, supõe-se que cada jogador, de modo independente, quer aumentar ao máximo a sua própria vantagem sem se importar com o resultado do outro jogador. Curiosamente, ambos os jogadores obteriam melhor resultado se colaborassem um com o outro, mas cada jogador tenderá a ser egoísta e a enganar o outro, mesmo que tenha prometido colaborar. O que acontecerá se ele pensar que o outro também agiria da mesma forma?”
      “O que o dilema coloca em jogo é justamente o fato de agir de forma egoísta, cada um para si, sem contar com ajuda do outro. Dado que nenhum deles pode ter certeza da cooperação do outro, o resultado final será que ambos irão optar por denunciar o colega. Desta forma têm certeza que terão, na pior das hipóteses, um pena de 5 anos, na melhor, sairão em liberdade. No final acabam por ficar bastante pior do que se tivessem cooperado”. Itamar Hammes é professor

O herói sem caráter

      Nestes últimos dias uma das notícias mais comentadas na sociedade brasileira é a morte de Eliza Samudio, amante do Goleiro Bruno do Flamengo, com quem teve um filho. As investigações apontam para o próprio goleiro e seu guarda costas a responsabilidade do crime. O que chama atenção neste crime são os requintes de crueldade, onde a guria foi estrangulada, esquartejada e atirada a famintos cães rottweiler.
      Além da violência, chama atenção também o fato de um astro de futebol que ganha em torno de R$ 400 mil ao mês ( entre salário e patrocínios) se envolver num crime desses. Um crime onde o mandante, quando preso, confessou sua maior dor: não participar da Copa do Mundo em 2014 no Brasil... O que leva um astro ou ídolo do futebol a se envolver num crime destes? É a sensação de impunidade ou ausência de deveres? É a absoluta falta de valores ou caráter?
      Há um livro clássico de nossa literatura intitulado O Macunaíma, de Mario de Andrade, que discute um pouco esta questão. Macunaíma nasce na selva e, depois de adulto, deixa o sertão em companhia dos irmãos. Vive várias aventuras na cidade, conhecendo e amando guerrilheiras e prostituas, enfrentando vilões, milionários e personagens de todos os tipos. Enfim, Macunaíma é o herói sem caráter, “sem ética, sem civilização própria, sem consciência tradicional”.
      Nossa sociedade também cria o herói sem caráter, sem ética, que inverte valores. Ela cria possibilidades de sucesso rápido, riqueza e sensação de impunidade. Dificulta, assim, a distinção entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre o substancial e acidental. Transforma em ídolos ou modelos, muitas vezes, pessoas sem capacidade de juízo ou mesmo caráter.
      Urge que façamos melhor nossas escolhas. Ídolos ou heróis são para serem seguidos ou aplaudidos. Devem ser exemplos de pessoas que lutam por uma vida boa para todos. Não podemos transformar em ídolos ou heróis pessoas sem caráter. Afinal eles influenciam Crianças e jovens. Itamar Hammes é professor.

Ética e Esclarecimento

      Há alguns dias atrás a sociedade brasileira acompanhou de perto a discussão sobre as mudanças no código de ética médica. A imprensa repercutiu amplamente a notícia. Jornais, rádio e televisão chamaram atenção para as mudanças. As alterações abarcam questões como a falta do médico no plantão, letra legível, receita a distância, segunda opinião, manipulação genética, pacientes terminais, receita a distância, segunda opinião, escolha do sexo e uso do placebo.
      Sem querer entrar em detalhes sobre as alterações propostas no código de ética médica, chamou atenção o interesse da sociedade em discutir o tema. Cada vez mais a as pessoas estão interessadas em transparência, em participação nas decisões, em responsabilidade nos atos. Percebe-se, inclusive, uma certa relação entre transparência e ética. Em outras palavras, esclarecimento e ética são praticamente sinônimos. Isto me lembra um texto famoso de 1784, escrito por Kant e intitulado Resposta à pergunta: Que é esclarecimento?
      Neste texto Kant chama a atenção para a importância e, ao mesmo tempo, da dificuldade de uma sociedade esclarecida. Chama atenção para dois conceitos fundamentais: menoridade e maioridade. A menoridade está relacionada a incapacidade do homem “fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo”. E esta incapacidade dos homens para fazerem uso de seu próprio entendimento estaria associada a preguiça ou comodismo. “Se tenho um livro que faz às vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito da minha dieta, etc., então não preciso de esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis”.
      Na visão de Kant não é tarefa fácil para os homens saírem da menoridade para chegar a maioridade. De certa forma esta situação de subordinação, de submissão transformou-se num certo conforto e muitos homens vivem de bom grado nesta situação, como se fosse esta a natureza humana. Porém, Kant adverte, que esta não é a natureza humana, uma vez que esta é dotada de razão. Assim, é o uso da razão, que permitirá a ascensão da menoridade para a maioridade. A razão lança luzes sobre todo o tipo de obscuridade. Esta autonomia do homem, a confiança na razão permitem o desenvolvimento de todas as potencialidades humanas abrindo a possibilidade do progresso sem fim da humanidade.
      Percemos, portanto, que em nossa sociedade, surgem cada vez mais fatos ou conquistas que demonstram nosso avanço em direção ao esclarecimento e a ética. Itamar Hammes é professor